Testemunhar um membro da família experimentando mudanças repentinas na memória e no comportamento pode ser confuso e assustador.
Se você tem um ente querido que está mostrando sinais de demência (incluindo Alzheimer), você não está sozinho. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 55 milhões de pessoas, em todo o mundo, apresentam sinais de demência e há aproximadamente 10 milhões de novos casos a cada ano.
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 1,2 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência e são diagnosticados 100 mil novos casos por ano.
Já para a Alzheimer, os números poderão chegar a 74,7 milhões em 2030 e 131,5 milhões em 2050, devido ao envelhecimento da população.
Esse cenário mostra que a doença caracteriza uma crise global e que deve ser enfrentada.
Então, como você pode melhor apoiar um membro de sua família que está lutando contra a demência?
O primeiro e importante passo é se familiarizar com tal distúrbio. Ao se armar com informações corretas a respeito, saber como identificar e o que fazer a partir do diagnóstico, você pode navegar de forma mais eficaz por essa doença.
Entendendo a demência
De acordo com a Associação do Alzheimer, a demência é um termo guarda-chuva usado para casos de perda de memória e de outras debilidades da função mental, severas o suficiente para interferir na vida cotidiana de uma pessoa.
Essas mudanças atípicas afetam comportamentos, sentimentos e relacionamentos. Ao contrário da crença popular, a demência não é parte normal do envelhecimento, mas sim consequência de doenças distintas e lesões que afetam o cérebro, primariamente ou secundariamente.
Tipos mais comuns de demência
Doença de Alzheimer
Tipo mais comum de demência, a doença de Alzheimer representa de 60 a 80% dos casos. Causa declínio lento nas funções relacionadas à memória, ao pensamento e ao raciocínio.
Demência vascular
Segunda causa mais comum de demência, ocorre quando o fluxo sanguíneo é prejudicado e causa danos ao cérebro.
Cria problemas de raciocínio, de planejamento, de julgamento, de memória e de outros processos de raciocínio.
Demência corporal de Lewy
Lewy bodies significa depósitos de proteínas anormais, podendo ser traduzido como "corpos lascivos" e refere-se a processos químicos que afetam o cérebro.
Esse tipo de demência leva a problemas com a elaboração do raciocínio, interfere na habilidade de se movimentar, no comportamento e no humor.
Demência frontotemporal
Tipo raro de demência que ocorre em uma idade mais jovem. Causada por danos nos lobos frontais e temporais do cérebro, leva a comportamentos incomuns, problemas emocionais, dificuldade de comunicação e possível dificuldade em andar.
Demência mista
Quando ocorrem vários tipos de demência simultaneamente no cérebro. Os sintomas podem variar dependendo dos tipos de doenças envolvidas e das regiões cerebrais afetadas. É comumente ligada ao Alzheimer e à demência vascular.
Reconhecendo a diferença entre perda de memória normal e demência
As pessoas podem experimentar a perda de memória à medida que envelhecem, cometendo erros inocentes que geralmente podem ser considerados parte do processo de envelhecer.
Esquecimentos ocasionais, como extraviar chaves, não lembrar nomes e às vezes ter dificuldade para encontrar as palavras certas são comuns e, quando brandos, são apenas sinais de envelhecimento.
Então, em que momento o esquecimento vai além de pequenos lapsos e se torna motivo de preocupação?
Os sinais de demência são, em geral, mais claros e alarmantes quando comparados aos sinais normais de envelhecimento. Agitação e confusão frequentes podem significar que seu ente querido está enfrentando dificuldades em desenvolver o raciocínio ou a tomada de decisões.
Quando ele passa a se comportar, de repente, de forma mais imprudente e começa a cometer grandes equívocos, como colocar na máquina de lava-roupa um objeto desconexo, por exemplo, é necessário levar tais comportamentos a sério e procurar ajuda médica.
Sinais comuns de demência
1. Confusão diária: esquecer informações recentemente aprendidas, fazer as mesmas perguntas repetidamente ou precisar de lembretes para executar tarefas rotineiras.
2. Dificuldade para resolver problemas: enfrentar problemas para se concentrar em coisas que envolvem planejamento ou trabalho com números, tais como receitas e contas.
3. Problemas para completar tarefas habituais: dificuldade em realizar tarefas diárias, como fazer compras ou cozinhar.
4. Confusão de tempo/lugar: perder o rastro de datas ou de passagem do tempo, esquecer onde está e como chegou a tal lugar.
5. Problemas com imagens e relações espaciais: dificuldade em manter o equilíbrio, mensurar distância ou identificar cor/contraste e, como resultado, passar a ter problemas ao dirigir, por exemplo.
6. Dificuldade com as palavras: problema para manter uma conversa ou uma linha de pensamento clara. É comum a pessoa parar de falar no meio da conversa ou substituir certas palavras e frases por outras não relacionadas.
7. Extravio de pertences: perder a noção das coisas e ter dificuldade em refazer um passo a passo corriqueiro para reativar a memória. Em casos mais graves, pode acusar pessoas de roubar suas coisas.
8. Perda/falta de discernimento: demonstrar falta de habilidade ao ponderar ou ao tomar alguma decisão, dar menos atenção aos cuidados/às questões de higiene habituais e passar a tomar decisões ruins quanto às finanças.
9. Afastamento: isolar-se dos outros ou demonstrar súbita falta de interesse em atividades sociais, compromissos ou hobbies.
10. Mudança de humor e de personalidade: tornar-se facilmente confuso, agitado, deprimido ou ansioso.
Como apoiar seu ente querido com demência
Quando um ente querido recebe um diagnóstico de demência, é importante saber que há recursos disponíveis para ajudá-lo. Aqui estão alguns passos que você pode tomar para facilitar o seu cuidado e agir a favor dele.
Construa uma comunidade de apoio: comece a construir um sistema de apoio de familiares, de amigos, de profissionais de saúde confiáveis e de cuidadores. Existem grupos de apoio disponíveis para ajudar famílias a navegar pela demência, oferecendo apoio emocional e conectando você e seu familiar a recursos úteis. Encontre grupos de apoio perto de você.
Mantenha-se engajado: incentive a permanência em atividades conscientes, considerando interesses prévios. Você pode começar compartilhando fotos da família para provocar conversas e trazer à tona memórias antigas. Criar caminhos por meio da música, da arte e da contação de histórias, assim como estimular movimentos corporais, podem ser uma ótima maneira de manter a conexão. Estimule a criatividade e cultive a conexão com interesses prévios. Terapias artísticas são eficazes por ativar partes do cérebro ligadas às memórias e às emoções, além de elas trazerem conforto e alegria.
Defina onde seu ente querido deve viver: obtenha a visão completa das necessidades atuais e de cuidados em longo prazo para seu ente querido. Se você decidir ser o cuidador, escolha qual escopo de cuidado pode fornecer confortavelmente, bem como quando e onde você precisará de ajuda. À medida que a pessoa envelhece, a necessidade de cuidados pode aumentar e exigir assistência 24 horas diárias. Isso implica rotinas para ajudá-lo a comer, fazer a higiene, tomar banho, vestir-se e circular pela casa, ou seja, a necessidade de apoio pode aumentar.
Pratique a paciência: lembre-se de ir na direção de seu ente querido. Se você notar que ele está esquecendo certos nomes ou perdendo a memória, não fique frustrado. Em vez disso, compartilhe um lembrete gentil ou foque outra coisa que possa ser mais fácil para ele entender. Em todas as suas interações, certifique-se de sempre o apoiar – tanto nos dias bons quanto nos ruins – e o tratar com o respeito que ele merece.
Escolhendo o tipo de cuidado
Nosso programa de Cuidados de Memória opera com cinco princípios de vitalidade para dar suporte e enriquecer as experiências de vida de seus moradores.
Esses princípios incluem Aprendizagem Continuada, Artes & Cultura, Aptidão Física, Conexões Comunitárias, Bem-Estar & Autocuidado. Por meio dessas áreas de atuação, buscamos nos conectar com qualquer pessoa e incentivá-la a se expressar como membros ativos da sociedade.
Se você decidir procurar ajuda de um cuidador profissional ou de uma comunidade residencial, escolha os tipos de cuidados e serviços que você considera os melhores. O cuidado médico é importante ou você prefere cuidados que forneçam uma abordagem mais pessoal, não farmacológica?
Ao coordenar um plano de cuidados em longo prazo para um membro da família com demência, considere suas opções. O que pode funcionar para uma família pode não funcionar para outra.
Por isso, é importante tomar a decisão que melhor se encaixe às necessidades individuais da sua.
Cuidados domiciliares: o tipo mais comum de cuidador de idosos é o familiar, que muitas vezes é um parente que presta cuidados. Essa pessoa costuma visitar seu ente querido em sua casa ou opta por morar junto, tornando necessárias uma estrutura e uma rede de apoio. Normalmente, esse cuidador tende a ajudar com tarefas diárias, além de gerenciar finanças e médicos. Por vezes, a rotina se mostra muito cansativa, e o cuidador familiar passa a se sentir "aprisionado" a essa decisão.
Cuidados domiciliares profissionais: um cuidador profissional é contratado para ir à casa e prestar atendimento. Muitas vezes, é empregado por intermédio de uma agência ou trabalha como cuidador independente, contratado pela família. Ele ajuda a compensar os deveres assistenciais e alivia a carga do cuidador familiar, contudo o familiar ainda precisará gerenciar a equipe de cuidados, as escalas, os turnos, as contratações e as rescisões. Esteja atento ao orçamento, e não apenas ao nível de cuidado que você vai precisar a cada momento, mas perceba o aumento de cuidado que seu ente querido precisará ao longo do tempo .
Senior living: fornece suporte 24 horas àqueles com perda de memória avançada ou demência, em grupos e ambientes terapêuticos, além de ser a melhor opção por oferecer atividades todos os dias e de socialização. Esses programas são frequentemente planejados para atender às necessidades de cada pessoa. Nesse caso, especialistas em cuidados de memória ajudam a encorajar os entes queridos a não abandonarem seus interesses. Se você decidir sobre uma comunidade, é importante entender suas opções e saber qual você vai querer. Uma parte importante a considerar é se você prefere uma comunidade farmacológica ou não farmacológica. Farmacológica: o cuidado farmacológico segue uma abordagem estritamente médica, prescrevendo medicamentos para aliviar a dor e para gerenciar sintomas de perda de memória. Um indivíduo, em uma comunidade de cuidados farmacológicos de memória, recebe um plano médico baseado em seu diagnóstico, mas pode não ter acesso a opções não médicas que apoiem a saúde emocional e incentivem a atividade cerebral.
Não farmacológica: concentra-se na saúde holística de uma pessoa, ao contrário de focar apenas a condição física. Traz dignidade aos indivíduos com desafios de cuidado e trabalha para melhorar a qualidade de vida da pessoa por meio do engajamento intelectual e do desenvolvimento da capacidade física.
Um membro da família com demência pode não voltar completamente ao seu antigo eu, mas isso não significa que ele se foi. Uma vez tendo os cuidados necessários, você pode se concentrar em nutrir seu relacionamento e encontrar novas maneiras significativas de se conectar.
Embora certas conversas e alguns marcos possam parecer um pouco diferentes, você ainda pode criar memórias que convidem para novas alegrias e descobertas, além de permitirem que você conheça seu ente querido como ele é em seu presente momento.
Fique atento em nossos textos e em nossas redes sociais. Futuramente, vamos apresentar ideias para se conectar e criar novas memórias.
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