Um dos maiores medos que percebo nos pacientes em relação ao passar dos anos é a deterioração de seus aspectos cognitivos. Um em especial desperta atenção: a memória.
Vejo que o menor sinal de esquecimento é visto como possível início de uma falha grave no sistema de armazenamento e processamento do cérebro. Esquecer uma palavra, um endereço ou um número de telefone de alguém próximo - algo que passaria despercebido para alguém mais jovem - pode fazer a pessoa que é mais madura entrar em pânico com a possibilidade de um quadro de Alzheimer ou demência.
Existem diferentes tipos de problemas de memória que podem afetar as pessoas idosas.
Um dos mais comuns é o esquecimento benigno da pessoa idosa, que é caracterizado por pequenas falhas na memória, mas que não interferem significativamente na vida cotidiana.
Porém, quando a perda de memória se torna mais grave e começa a interferir nas atividades diárias, é necessário buscar ajuda médica.
Além disso, a depressão e o estresse também podem afetar a memória.
Muitas vezes, a depressão é subdiagnosticada nas idades avançadas, o que pode levar a um agravamento dos sintomas e a uma piora na qualidade de vida.
Por isso, é importante estar atento aos sintomas e procurar ajuda profissional se necessário.
Estratégias para preservar a memória Há tempos ouvimos falar da importância de estímulos como a leitura, jogos que desafiem o cérebro, aprendizado de novas habilidades ou mudanças simples em trajetos do cotidiano como formas de se melhorar as funções cognitivas. Aspectos nutricionais também se mostram muito importantes para esse fim. No entanto, além do que já é amplamente aceito sobre esse assunto, estudos recentes comprovaram a eficácia de ferramentas simples e possíveis de serem aplicadas pela maioria das pessoas e qualquer idade, no sentido de retardar ou evitar os problemas relacionados à memória, atenção e foco.
Para entender melhor essas comprovações, precisamos saber sobre duas partes do cérebro.
Uma é o hipocampo: um grande responsável pela associação de informações, imaginação e memória.
A outra é o córtex pré-frontal: ele organiza as informações, é responsável pela memorização, foco e compreensão.
Um estudo da realizado pela New York University comprovou recentemente que exercícios que elevam a nossa frequência cardíaca são importantes para estimular o córtex pré-frontal e o hipocampo. São inclusive capazes de tornar este último mais robusto e espesso através da formação de novas células. Isso é possível graças à cascata neuroquímica liberada quando movimentamos o nosso corpo.
Mesmo que haja tendência genética ao desenvolvimento da demência, a realização de atividade aeróbica por 30 a 45 minutos diários é capaz de retardar seu aparecimento. Os estudos sugerem que os exercícios cardiovasculares realizados nessa frequência melhoram, a longo prazo, a capacidade de memorização, de mudança de atenção e também o foco. Além de promover o aumento da velocidade de resposta cognitiva e motora, a melhora no humor, a redução dos níveis de ansiedade e depressão e o aumento da sensação de energia.
O estudo também mostrou que é especialmente interessante para o cérebro que o exercício seja feito pela manhã. No entanto, há benefícios se for realizado em qualquer hora do dia. O principal, segundo a pesquisa, é que aumente a frequência cardíaca, com o tempo mínimo de 30 a 45 minutos de duração. E, se possível, diariamente. Estimula-se dessa forma a neurogênese (formação de novos neurônios), mesmo em idades avançadas.
É importante, contudo, que haja uma avaliação médica em relação à capacidade física individual para entender qual a frequência possível e o exercício mais indicado em cada caso.
Sabe-se que a partir de 3 vezes por semana já encontram-se benefícios congnitivos consideráveis.
Outro estudo muito interessante, realizado pela London University, mostrou que meditações guiadas de apenas 10 minutos, feitas diariamente, são capazes de melhorar a capacidade cognitiva de indivíduos em qualquer idade, além de melhorar sua resposta ao estresse e também o humor.
A prática de acalmar a mente e focar no momento presente é comprovadamente uma ferramenta que traz mais saúde para o cérebro, e mais qualidade de vida para o praticante. No estudo utilizou-se a técnica de escaneamento corporal, uma meditação simples que foca em trazer a atenção para as partes do corpo.
Precioso também para a preservação de todas as funções cognitivas é o sono. É quando dormimos que várias conexões importantes são feitas no cérebro, e também uma verdadeira limpeza, onde toxinas importantes são eliminadas, o que é essencial para o equilíbrio dos processos cognitivos.
Percebemos com essas informações que nunca é tarde para adquirir hábitos saudáveis em qualquer nível, inclusive para a saúde cognitiva.
Através de hábitos simples estimulamos uma química cerebral favorável, contribuindo para uma boa memória, capacidade de aprendizado e de foco.
Dessa forma, é possível preservar a memória, e consequentemente, a qualidade de vida da pessoa idosa.
Débora Ventura é fisioterapeuta. Especializada em medicina tradicional chinesa pela Universidade de Shandong, China. Pós-graduada em Osteopatia, pelo IDOT, e Acupuntura, pelo CIEPH. Fundadora da Clínica Ventura, em Florianópolis, atua há 20 anos com terapias integradas.
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